quinta-feira, 26 de março de 2015

37ª Olimpíada Brasileira de Matemática – OBM

A Olimpíada Brasileira de Matemática – OBM, iniciou, nesta segunda-feira (23), a distribuição do material de divulgação de sua 37ª edição. 

O material enviado às escolas inclui cartazes, um informativo contendo as instruções necessárias para realizar a inscrição na competição e dois exemplares da Revista EurekaNº 38.

As escolas que participaram da OBM,  em 2014, receberão o material de divulgação enviado pelos Correios. A previsão é de que a entrega seja concluída durante o mês de abril. Escolas que não participaram em anos anteriores e que desejem ter acesso ao material poderão acessar o site da OBM e obter a versão digital sem custo.

Criada em 1979, a Olimpíada Brasileira de Matemática conta atualmente com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis), do Ministério de Educação (MEC) por intermédio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Matemática (INCT-Mat).

Período de inscrições e regulamento para escolas
2 de abril a 31 de maio de 2015 (apenas no Site www.obm.org.br )

segunda-feira, 16 de março de 2015

Especial Ensino Médio Uma nova divisão curricular, a mudança no foco da aprendizagem e o exame de avaliação garantem a professores e alunos da última fase da Educação Básica uma autonomia inédita

Aluno novo, escola idem

Ensinar por competências significa entender que o mundo mudou e as aulas precisam dar conta disso

Como sintetizar em oito páginas de revista uma reforma educacional que envolveu centenas de pessoas e instituições e gerou mais de mil páginas de documentos, discussões acaloradas em congressos, seminários e simpósios — e ainda está dando seus primeiros passos? É preciso pesquisar documentos, consultar especialistas, transcrever entrevistas e analisar estatísticas. Isso é só o começo. Depois de criar um percurso, algumas hipóteses são abandonadas e outras, privilegiadas. Mas ainda é pouco. O repórter deve mesclar o que já aprendeu em outros trabalhos com aquilo que é específico deste e definir um plano para sair do labirinto de informações, números e conceitos com um produto final.

A metáfora acima é esclarecedora da própria reforma do Ensino Médio. Os 8,2 milhões de brasileiros que freqüentam as 19456 escolas — e também os professores desses jovens — estão diante de um enorme contingente de informações, com a responsabilidade de dar sentido a elas e construir um novo futuro. Tudo porque o mundo vem mudando radicalmente nas últimas décadas. As relações produtivas se transformaram e exige-se hoje uma mão-de-obra cada vez mais qualificada, que saiba identificar o que é realmente relevante para o trabalho — qualquer trabalho. Flexibilidade, articulação, autonomia de pensamento e ação, capacidade de integrar conhecimentos vindos de várias áreas fazem parte de um conjunto de habilidades supervalorizadas.

"Precisamos de gente que pense, tome iniciativas, expresse pensamentos e idéias, saiba ouvir o outro e trabalhar em grupo." Foi assim que um empresário resumiu, numa recente reunião no Conselho Nacional de Educação, o que o departamento de recursos humanos de sua companhia persegue. E a escola tem tudo a ver com isso. Acabou-se o tempo em que só um ensinava e vários aprendiam, sempre a mesma coisa do mesmo jeito. É hora de formar pessoas completas, jovens capazes de viver a própria vida por inteiro. O desafio está colocado. Sai a "linha de montagem" (ancorada nos livros didáticos), entra em cena uma rede de relações (baseada no conceito de competências). Em vez de especialistas em conteúdos, precisamos de pessoas compromissadas com a idéia de que todos aprendemos sem parar. O que vale é saber como enfrentar os problemas — e superá-los, em casa, no trabalho, no mundo.

Esses são os alicerces da reforma do Ensino Médio, em vigor desde 1998. O principal deles é o ensino por competências. "Uma competência é mais do que um conhecimento", afirma Lino de Macedo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores da matriz do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. "Ela pode ser explicada como um saber que se traduz na tomada de decisões, na capacidade de avaliar e julgar." Ao contrário do que muita gente pode pensar, esse saber articulado ao fazer não é um modismo, garante ele. "A evolução da tecnologia é definitiva e, infelizmente, mais exclui do que inclui. Quem não sabe operar um computador, dificilmente consegue emprego", exemplifica.

Dois rios paralelos

A mudança no cenário das relações de trabalho encontrou o Ensino Médio brasileiro em meio a uma histórica crise de identidade. Ele nasceu vinculado ao Ensino Superior e, como um afluente, só servia para conduzir seus (poucos) navegantes ao leito principal das faculdades. Em outras palavras, tinha caráter exclusivamente preparatório, que os especialistas chamam de propedêutico. Havia, sim, uma alternativa: o ensino profissionalizante, voltado para os mais pobres. Desse segundo afluente (um pequeno córrego, se comparado ao total da população jovem) fazem parte as escolas técnicas federais e o chamado "sistema S" (Senai, Senar e Senac). O problema é que as duas linhas d’água nunca se encontravam — aliás, reproduzindo nosso trágico abismo social.

Até 1931, quando passou a ter existência formal autônoma, o Ensino Médio não era sequer condição necessária para o ingresso numa faculdade. Na época, bastava fazer um curso preparatório, inclusive em casa. Desde então, foi uma reforma a cada dez anos, em média. Algumas desastrosas, como a de 1971, que impôs a profissionalização obrigatória e causou transtornos profundos, principalmente na rede pública.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, começou a pôr fim a esse caráter dualista. O Ensino Médio deixou de ser um apêndice do Ensino Superior e juntou-se ao Ensino Fundamental e à Educação Infantil para formar a Educação Básica. "É uma mudança considerável e histórica", atesta Carlos Jamil Cury, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente da Câmara Básica do Conselho Nacional de Educação. "Histórica porque cria uma identidade para o que antes era um trampolim; considerável porque, ao adotar a flexibilidade, a LDB dá condições para que, a médio e longo prazo, as escolas construam ‘edifícios diversificados’ sobre uma base comum".

Essa fabulosa possibilidade consolidou-se em 1998, com a reforma do sistema, expressa na forma de diretrizes e parâmetros curriculares. As diretrizes propõem, juntamente com a flexibilidade e a autonomia dadas às escolas para definir um projeto pedagógico e o currículo propriamente dito, dois conceitos essenciais: a interdisciplinaridade e a contextualização. Em cima desses dois pilares podem ser erguidos os "edifícios diversificados". Em outras palavras, cada grupo de professores tem liberdade para adaptar os conteúdos ao contexto social, geográfico e econômico do colégio. O mesmo vale para a integração entre as disciplinas — que deve ser feita de acordo com o perfil dos estudantes.

É fácil fazer isso? Definitivamente não. "Os professores têm décadas de experiência no que chamo de atuação disciplinar, tanto na condição de alunos como na de mestres", sintetiza Nilson José Machado, da Faculdade de Educação da USP. "É compreensível que muitos tenham resistência a trabalhar de forma interdisciplinar." O mesmo vale para a noção de competência. "Não só ela não está bem absorvida como também as possibilidades que oferece para a prática de ensino ainda são pouco conhecidas."

A vez do noturno

Na prática, é necessário reinventar a escola. Em apenas cinco anos, o número de matrículas no Ensino Médio cresceu 57,3%, de 5,2 milhões para quase 8,2 milhões. Sim, temos hoje 3 milhões a mais de jovens estudando. E dois terços do total em escolas públicas (leia mais no quadro abaixo). O aumento no total de estudantes decorre de dois fatores principais: a expansão do Ensino Fundamental, com mais gente concluindo os oito anos de escolaridade, e o grande volume de pessoas que, já trabalhando, volta à sala de aula em busca de formação e qualificação para garantir um emprego melhor — e um futuro idem. Por essa razão, é cada vez maior a oferta de turmas no horário noturno, que já responde por 51,3% das vagas existentes.

Infra-estrutura a serviço da aprendizagem

Veja quantos alunos têm acesso a biblioteca, laboratórios e quadras na escola (nas redes pública e particular)




Infográfico: Beto Uechi

Esse aluno, que precisa trabalhar e estudar ao mesmo tempo, tem um projeto de vida muito mais complexo do que aquele que vive protegido por sua família e, tradicionalmente, era a clientela do Ensino Médio", analisa Guiomar Namo de Mello, relatora das Diretrizes Curriculares Nacionais e diretora executiva da Fundação Victor Civita, que edita NOVA ESCOLA. Dono de uma autonomia conquistada a duras penas e, não raro, humilhações, ele possui relações de trabalho, familiares (muitos têm filhos) e sociais diferenciadas. Por isso, não quer nem pensar na possibilidade de falhar nos estudos novamente. "Na verdade, esse jovem conhece na prática a noção de competência, pois precisa exercitar habilidades para continuar empregado", completa Alcyone Saliba, secretária de Educação do Paraná. Não é à toa que, no Estado, os professores sejam incentivados a transformar a experiência profissional da turma em atividades curriculares.

Neste especial, você vai conhecer um pouco mais sobre as cinco competências básicas que se espera que o aluno tenha ao terminar o Ensino Médio. E verá, se ainda não descobriu, como elas estão mais próximas da sala de aula do que parece à primeira vista.

Como trabalhar por competências

O caminho ideal para desenvolver os cinco pilares básicos previstos no Enem são os projetos didáticos

O ensino por competências é apenas a ponta mais visível de uma mudança radical de conceito. Esqueça a história de que ir à escola é dever de toda criança e que lá ela vai encontrar um professor pronto a lhe ensinar conteúdos pré-definidos. O que vale agora é o direito que todo cidadão tem de aprender. E por aprender entenda-se não só o currículo, mas a capacidade de construir a própria vida, relacionar-se com a família, os amigos, os colegas de trabalho. A competência é o que o aluno aprende. Não o que você ensina.

É por isso que os projetos didáticos ganham força nesse cenário. Pense em qualquer tipo de projeto: reciclagem, jornal escolar, criação coletiva de um livro, campanha de saúde etc. Todos exigem trabalho coletivo, planejamento das etapas, pesquisa em várias fontes, capacidade de síntese e diferentes técnicas de apresentação. Ou seja, uma oportunidade para desenvolver diversas competências. "É a melhor forma de desconstruir a cultura antiga, pois não dá para trabalhar assim só com uma disciplina", analisa Carlos Jamil Cury, do Conselho Nacional de Educação. Segundo ele, um bom jeito de começar a mudar é, no início, tocar um projeto por semestre. Em seguida, dois. Mais tarde, três. "Sem pressa fica mais fácil criar uma cultura."

O fórum De Escola Para Escola, do Ministério da Educação, reúne experiências desse tipo. "Selecionamos trabalhos que partem de situações reais, sempre envolvendo professores de diferentes disciplinas", explica a diretora de Ensino Médio do ministério, Maria Beatriz Gomes da Silva. Sofre mais para absorver o novo conceito quem trabalha só com o livro didático, acredita Eny Maia, secretária municipal de Educação de São Paulo e coordenadora dos PCN do Ensino Médio. Segundo ela, "ele impede que o professor pare para refletir sobre os conceitos básicos da disciplina e, conseqüentemente, sobre que competências precisa desenvolver nos alunos". Vire a página e explore as possibilidades abertas para quem quer ensinar usando as cinco competências avaliadas todo ano pelo Enem.

São muitas as linguagens

Ler o mundo significa mais do que ser capaz de ler um texto. É necessário aprender outras linguagens além da escrita. Gráficos, estatísticas, desenhos geométricos, pinturas, desenhos e outras manifestações artísticas, as ciências, as formas de expressão formais e coloquais — tudo deve ser lido e tem códigos e símbolos específicos de decifração. Quando um aluno está diante de um problema matemático, precisa ser capaz de interpretar a pergunta para entender que tipo de resposta é esperada. Idem para quem busca extrair conclusões de uma tabela de censo demográfico. Se o professor pede para escrever cartas a destinatários diferentes, o estudante tem de escolher o estilo e o vocabulário adequados a cada situação.

Viu como ler o mundo é mesmo fascinante? Essa competência está associada a diversas atividades muito comuns na escola. Atividades que envolvam a leitura de jornais permitem desenvolver na turma as habilidades de ler estatísticas, separar a informação da opinião, usar as informações contidas em tabelas para escrever um texto dissertativo...

No campo das manifestações culturais, não é preciso ser artista para saber que o cinema, a música e a dança exploram linguagens específicas. Compreendê-las é o primeiro passo para estabelecer relações com o contexto histórico, identificar outras obras com as quais estabelecem diálogo e a que tipo de tradição se filiam, entre tantas inferências possíveis.

O filósofo John Stuart Mill disse certa vez que "o grande problema da vida é fazer inferências". É exatamente dessa capacidade de articular informações para concluir um raciocínio ou deduzir um resultado que trata esta competência, a do domínio das linguagens.

Competência 1

Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica.

Algumas habilidades:

1) ler e interpretar textos escritos na língua materna;

2) dominar elementos gráficos e geométricos, conseguindo interpretar dados;

3) identificar padrões comuns nos processos que garantem a evolução dos seres vivos;

4) reconhecer os códigos da linguagem artística e suas relações com o contexto histórico;

5) produzir textos orais e escritos para diferentes contextos e interlocutores.

Compreender fenômenos

A teoria da seleção natural das espécies não nasceu do nada na cabeça do naturalista Charles Darwin. Da mesma forma, não basta ler esse conceito num livro didático para compreendê-lo. Só criando pontes entre aquilo que Darwin observou em suas viagens, as pesquisas que realizou e o que se acreditava na época em que ele vivia conseguimos alcançar suas idéias e perceber o abalo que elas provocaram. O mesmo se dá na hora de resolver um problema matemático. É essencial usar conceitos para entender as reais aplicações da Matemática no mundo — não usar a realidade para fazer a turma decorar os conceitos.

Nilson José Machado, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, destaca que o professor não pode perder de vista a idéia de que "a rede do conhecimento está em constante estado de reconfiguração. Há sempre relações novas, que estão surgindo, e outras que estão caindo de maduras". Para ele, é importante que todo educador mostre, ao longo do programa curricular, como sua disciplina evoluiu. No caso da Matemática, explorando temas que vão do surgimento dos algarismos até as mais recentes aplicações. No caso de Ciências Naturais, estabelecendo relações entre o conhecimento dos processos físicos, químicos e biológicos em relação à linha do tempo. No caso de Ciências Humanas, mostrando como as grandes transformações acontecem.

Competência 2

Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas.

Algumas habilidades:

1) aplicar conceitos para compreender fato natural ou social;

2) entender diferentes escalas de tempo;

3) articular saberes.

Hora de tomar decisões

A situação-problema surge quando o professor cria um desafio cuja superação faz com que o aluno aprenda alguma coisa. É uma maneira de inverter o tradicional sistema de "transmissão de conhecimento". Em vez de oferecer a resposta certa, o caminho é fazer a pergunta certa e, com base em algumas coordenadas que ajudem a situar a questão, incentivar a garotada a encontrar essa resposta certa. Uma situação-problema típica é o trabalho por projetos didáticos, quando o grupo é desafiado a empreender algo. Os estudantes partem de algumas informações, definem um objetivo e traçam um caminho para alcançá-lo. "Muitos de nós, na escola e fora dela, ficamos rapidamente desinteressados quando recebemos apenas boas respostas", afirma Lino de Macedo, do Instituto de Psicologia da USP. "Mas não conheço ninguém que não se sinta motivado diante de um problema."

Ao coletar informações em diferentes bancos de dados, como a internet, fontes orais e livros e jornais da própria biblioteca da escola, extraindo de cada uma o que interessa para a execução do projeto, o aluno desenvolve operações mentais de altíssimo valor para a tomada de decisões. Por isso, vale a ressalva. "Existe o risco de ele se perder diante de tantas fontes de informação", destaca Nilson Machado, da Faculdade de Educação da USP. "É essencial que se tenha um mapa de relevâncias capaz de estabelecer o que é importante para aquele determinado objetivo. Nada é relevante ou irrelevante por si, mas sempre em relação a um contexto." Fazem parte do conjunto de habilidades ligadas a essa competência as ações de identificar, caracterizar, relacionar, confrontar, calcular, prever, analisar, organizar e contextualizar diferentes informações, extraindo dessas operações a resposta certa — ou um produto final, no caso dos projetos didáticos.

Competência 3

Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema.

Algumas habilidades:

1) tomar decisões partindo da análise de dados;

2) dada uma situação-problema, apresentada numa linguagem de determinada área de conhecimento, saber relacioná-la com sua formulação em outra linguagem;
3) interpretar com base em inferências ou conclusões autorizadas pelos dados disponíveis.

Construir argumentos

Não basta ter as informações certas. É preciso construir argumentos válidos e agir. Isso vale para a vida, no mundo do trabalho e, claro, na sala de aula. Quando o professor cria um júri simulado para que os alunos debatam algum tema, faz com que todos exercitem essa competência, essencial para o exercício da cidadania. Afinal, só reclama seus direitos quem sabe argumentar a seu favor.

Trabalhos em grupo exigem dos estudantes intensa capacidade argumentativa e exercitam valores como tolerância e respeito às diferenças. Tão importante quanto saber argumentar é ter a capacidade de ouvir. Apresentar duas idéias opostas sobre um tema e pedir um texto que leve ambos em consideração é mais um ótimo jeito de construir esta competência — que, ao contrário do que supõe uma leitura apressada, não diz respeito apenas à linguagem oral.

Pegue-se como exemplo a questão da violência. Ao escrever, o aluno pode dispor de diferentes tipos de dados para formar sua opinião: estatísticas gerais, levantamentos específicos segundo a classe social, a geografia e a idade dos agressores ou um balanço histórico sobre a questão.

Construir argumentação consistente partindo das informações disponíveis é o cerne desta competência, que está diretamente ligada à idéia da contextualização do ensino defendida pela Lei de Diretrizes e Bases. A legislação não dissocia a preparação para o trabalho da formação geral do educando. Daí a ênfase na necessidade de a escola dar sentido ao que ensina, estabelecendo ligações entre o conhecimento teórico e a prática cotidiana.

O texto da reforma do Ensino Médio defende um "contexto norteador do currículo, já que todos, independentemente de origem ou destino socioprofissional, devem ser educados na perspectiva do trabalho". É uma postura integradora, que reconhece e absorve saberes de fora dos muros escolares para formar cidadãos críticos — uma situação radicalmente diferente daquela velha cultura enciclopédica voltada para o acúmulo de informações. Nesse novo desenho, o que não é contextualizado dificilmente vira conhecimento. Como diz o escritor Rubem Alves, "a memória mora na ação". Ou seja, o que não é usado cai no merecido esquecimento.

Um aspecto da realidade da escola diretamente relacionado a esta competência são os grêmios estudantis. Tidos por muitos educadores como o melhor jeito de manter um foro permanente de debates e troca de idéias, eles servem para colocar à prova a capacidade argumentativa da garotada. A começar pela própria campanha pelo comando da instituição. Só terá chances a chapa que criar propostas e defender pontos de vista consistentes — e convencer os colegas a votar.

Competência 4

Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente.

Algumas habilidades:

1) ser capaz de articular idéias e ordenar o pensamento, para convencer os outros de determinado argumento;

2) identificar pontos de vista diferentes, identificando os pressupostos de cada interpretação;

3) produzir uma linha de argumentação com base na coleta de informações;

4) defender seu ponto de vista de maneira consistente e lógica e contra-argumentar possíveis contestações.

Intervir na realidade

"A própria essência de uma cultura geral não será preparar os jovens para entender e transformar o mundo em que vivem?", pergunta Philippe Perrenoud, um dos nomes mais constantemente associados ao ensino por competências. Na quinta competência exigida pelo Enem reside o verdadeiro exercício da cidadania. Ela funciona como o vetor voltado para a sociedade de tudo o que foi aprendido e exercitado nos três anos do Ensino Médio.

Se a escola ignora o pressuposto defendido pelo educador suíço, hiperdimensionando os projetos pessoais, segue o perigoso caminho do culto ao individualismo. O melhor antídoto é despertar o sentimento de solidariedade por meio de ações concretas de intervenção na realidade. "Felizmente, essa competência vem sendo trabalhada de maneira sistemática em todo o país", afirma Eny Maia, secretária municipal de Educação de São Paulo. "É comum ver projetos que envolvem a adoção de uma praça ou rio ou o mapeamento do entorno escolar como forma de conhecer a realidade para depois propor intervenções."

Buscar soluções para questões de saúde ou urbanismo, visitar orfanatos, asilos e presídios e participar em festas comunitárias são outros exemplos bem-sucedidos de momentos de aprendizagem que se cruzam com o exercício da cidadania. Mas atenção. Não basta agir. É essencial tomar consciência do papel que cada um pode e deve ter na transformação do mundo. Ou seja, para que esta competência faça sentido, é preciso antes dominar as outras quatro. A soma faz com que o estudante se torne preparado para agir. E saia da escola dizendo que ela conseguiu, sim, prepará-lo para a vida.

Competência 5

Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para a elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.

Algumas habilidades:

1) tomar parte em decisões que influem na vida comunitária;

2) exercer a cidadania por meio de seus diversos canais (partidos políticos, associações etc.);

3) compreender a realidade nas suas dimensões social, ética, política e econômica;

4) atuar, de maneira criativa, na melhoria do mundo em que vivemos.

Fonte: Nova Escola...