terça-feira, 9 de agosto de 2011

Computadores chegam às escolas públicas, mas não à sala de aula

Pesquisa aponta que falta capacitação para professores do uso pedagógico das máquinas e da internet.

Apesar dos computadores terem chegado às escolas públicas do País, o uso da ferramenta e da internet ainda é tímido e conservador. A análise é dos responsáveis pela pesquisa TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) Educação 2010 realizada em 497 instituições de ensino de ensino municipais e estaduais de todas as regiões urbanas do Brasil. Divulgado nesta terça-feira, o estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil identifica usos e apropriações das TICs nas escolas públicas brasileiras.

De acordo com a pesquisa, 100% das escolas pesquisadas têm computadores e 92% contam com acesso à internet (87% têm banda larga). Porém as atividades mais realizadas pelos professores com os alunos – exercícios para prática e fixação do conteúdo, aula expositiva e interpretação de textos – são as menos praticadas com as máquinas.

Segundo os 1.541 professores de português e matemática entrevistados, as atividades mais praticadas são ensinar os alunos a usar o computador e a internet (66%), realizar pesquisas (44%) e projetos ou trabalhos sobre um tema (43%).

Atividades propícias para serem feitas com o uso do computador, como intermediar o contato dos alunos com especialistas e agentes externos (20) e realizar trabalhos colaborativos entre os alunos são práticas menos utilizadas.

Sala de aula
Um dos principais entraves para o uso pedagógico mais efetivo do computador e da internet é a falta de máquinas em sala de aula. Apenas 4% das escolas têm máquinas nas salas e dessas 16% têm acesso à web. De acordo com a pesquisa, o laboratório de informática, presente em 81% das escolas, é o local mais usado pelos professores.

Proporcionalmente, no entanto, os professores que utilizam o computador o fazem com maior frequência em sala de aula. Por exemplo, entre os professores que utilizam as tecnologias (computador e Internet) para realizar projetos ou trabalhos sobre um tema, 81% fazem na sala de aula enquanto 72% preferem usar o laboratório de informática. A proporção de docentes uitilizando as TICs na classe é maior em todas as atividades pesquisadas (veja o gráfico abaixo).

Computador é melhor utilizado na sala de aula

Dados da pesquisa TIC Educação 2010 mostram que professores usam proporcionalmente mais a ferramenta na classe do que no laboratório de informática

“Percebemos que há uma demanda reprimida de professores que queriam usar o computador em sala de aula, mas não têm como”, destaca Juliano Cappi, coordenador de pesquisas do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br) do Comitê.

Possivelmente, há docentes levando o próprio notebook para a sala de aula, já que 41% afirmam levar o computador pessoal para a escola. “Deve-se repensar em levar a infraestrutura para a sala de aula, por meio de roteadores e notebooks, pois o uso do computador se mostra mais eficiente neste espaço”, aponta Alexandre Barbosa, gerente do CETIC.br.

Para os professores, a principal limitação para o uso das TICs no processo pedagógico é o baixo número de computadores por aluno; 77% afirmam que a quantidade insuficiente de máquinas atrapalha. De acordo com a pesquisa, a média de computadores instalados é de 23 máquinas por escola, sendo que apenas 18 funcionam efetivamente e cinco estão em manutenção.

Como há em média 800 alunos por escola no Brasil, segundo o Censo Escolar de 2010, a conta ficaria em um computador para cada 45 alunos.

Perfil do docente
O professor das escolas pesquisadas é um profissional com alto nível de formação – 73% participam de cursos de formação continuada, 95% têm ensino superior e 60% fizeram pós-graduação ou especialização – e conectado: 90% possuem computador em casa e 81% têm acesso à internet. Os números são bem acima da média nacional, que é de 31% de domicílios com computador e 27% das residências com acesso à web.

Metade dos entrevistados fez um curso específico de informática, mas ainda não sente segurança em sua habilidade. Para 64%, os alunos sabem mais sobre computador e internet do que eles e 24% afirmam que não sabem o suficiente para usar a máquina na aula. “Há uma lacuna na aplicação das atividades. O desafio para os professores é descobrir qual é o uso pedagógico das TICs”, afirma Camila Garroux, coordenadora da pesquisa. A pesquisadora aponta que uma possível solução para o problema seriam políticas públicas para o uso do computador focado na disciplina do docente.

A pesquisa será apresentada na próxima quarta-feira à secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva. Os dados devem servir de base para os governos traçarem políticas públicas educacionais.

Marina Morena Costa, iG São Paulo | 09/08/2011 17:04 - Atualizada às 18:20

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