Notas de professores e estudantes em testes foram comparadas em pesquisa da UFMG. A cada 10 pontos a mais no conceito do docente, seus alunos aumentaram nota em um ponto.
Medir o impacto do conhecimento do professor para o desempenho
escolar do aluno pode soar, à primeira vista, uma tarefa difícil e sem
sentido. Difícil porque os instrumentos para avaliar o quanto um docente
conhece a disciplina que leciona são raros e, sem sentido porque, em
tese, só ensina determinado assunto quem o conhece.
A pesquisadora Raquel Rangel Guimarães, que é estudante
do doutorado em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional (Cedeplar) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
porém, percebeu que esse era um fator importante para avaliar o
aprendizado dos estudantes brasileiros e encontrou uma maneira de
demonstrar isso.
Durante mestrado realizado na Universidade de Stanford, nos Estados
Unidos, Raquel avaliou quais eram os fatores que, no Brasil, mais
contribuíam para o bom desempenho escolar das crianças, medido por
avaliações em grande escala. A qualificação do professor apareceu como determinante
. O desafio seguinte foi verificar o tamanho desse impacto.
Raquel considerou, na pesquisa, as notas de estudantes da
4ª série do ensino fundamental e seus professores em provas de
Matemática do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Na
amostra, foram avaliados os dados de seis Estados brasileiros - os que
tinham pior desempenho e fizeram parte do Plano de Desenvolvimento da
Escola (PDE) entre 1999 e 2003. São eles: Rondônia, Pará, Pernambuco,
Sergipe, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Os resultados mostram que cada 10 pontos a mais tirados
por um professor no teste representam um aumento de, pelo menos, um
ponto na nota dos alunos. Os estudantes foram avaliados em uma escala de
0 a 100. Docentes e alunos prestaram as mesmas provas.
"Temos um efeito razoável e estatisticamente significante, que aponta
a necessidade de investimento em políticas para a melhoria do
conhecimento do professor do conteúdo que ministra", ressalta Raquel.
Segundo ela, o efeito é duas vezes maior do que o observado em escolas
públicas da Carolina do Norte, mostrado em um estudo de Charles
Clotfelter, Helen Ladd e Jacob Vigdor, usado pelos pesquisadores para
fazer comparações com o Brasil.
Dados escassos
As análises estatísticas feitas por Raquel e um grupo de
colegas estrangeiros – Asha Sitaram e Shimpei Taguchi, de Stanford;
Lucia Jardon, da Universidade de Zurique, e Lenora Robinson, da Harlem
Village Academies – serão tema de palestra em um congresso da Population
Association of America, em New Orleans, nos Estados Unidos, no dia 11.
"Infelizmente, os professores só participaram da
avaliação em 1999. Seria fantástico se tivessem aplicado ao longo do
tempo. É super difícil definir a qualidade do professor, o quanto ele
sabe. O mais próximo que temos para definir um professor de boa
qualidade é o conhecimento que ele tem da disciplina e o quanto ele sabe
transmitir, que ainda não consegui estudar", afirma Raquel.
Segundo ela, os estudos na área ainda são escassos e
deveriam ser mais explorados, porque podem direcionar políticas
públicas. "Existe um potencial muito grande para investimento na
qualificação do professor. Muitas vezes, parece óbvio mas o que
percebemos é que há professores que não conhecem a disciplina que
lecionam. É preciso melhorar a capacitação do educador", diz.
fonte: brturbo.com.br
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